A ansiedade é um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e o Brasil é um dos países mais ansiosos. Falamos de quase 10% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Caracterizada por preocupação excessiva, medo e inquietação, ela impacta significativamente a qualidade de vida. Pode se manifestar naquela sensação de taquicardia e angústia ou ser mais sutil, se escondendo no sentimento de tédio e de insegurança.
Ficar irritado facilmente ou ter dificuldade para relaxar são só alguns dos comportamentos comuns na vida de um ansioso e identificados em mais da metade dos entrevistados no Panorama da Saúde Mental 2023, pesquisa semestral do Instituto Cactus.
Os dados apontam que 73% dos entrevistados são incomodados pela preocupação com assuntos diversos e 68% por se sentirem nervosos, ansiosos ou muito tensos. A maioria (55,8%) nunca procurou um profissional da saúde para tratar a ansiedade.
Tipos de ansiedade
As causas da ansiedade podem incluir fatores genéticos, ambientais e psicológicos, mas atenção: não é tudo a mesma coisa. Nem todo ansioso se sente igual e entender isso contribui para um tratamento mais assertivo. O psiquiatra da Prevent Senior, Lucas Marchetti, lista os tipos de ansiedade mais comuns:
1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): caracterizado por preocupação excessiva e constante, mesmo com situações do dia a dia.
2. Transtorno do Pânico: crises súbitas de pânico e medo intenso, acompanhadas de sintomas físicos, como palpitações e falta de ar.
3. Ansiedade Social (ou fobia social): medo intenso de ser avaliado negativamente em situações sociais.
“O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um dos mais comuns, as pessoas apresentam preocupações persistentes e incontroláveis”, diz.
Sintomas não óbvios da ansiedade
Além dos sintomas mais comuns, como preocupação excessiva e palpitações, a ansiedade pode se manifestar de formas não tão óbvias. Fique atento(a) aos seguintes sintomas:
- Dores musculares ou tensão corporal constante
- Desconforto abdominal, náusea ou diarreia
- Sensação de "nó" na garganta ou dificuldade para engolir
- Irritabilidade ou impaciência sem motivo claro
- Dificuldade para tomar decisões ou procrastinação
- Sensação de despersonalização, sentir-se desconectado de si ou do ambiente
O sentimento de tédio também é um ponto de atenção, pois a mente tende a vagar mais quando está ociosa, levando a pensamentos excessivos ou preocupações desnecessárias. Esse estado de inatividade pode criar um ciclo, no qual o tédio gera ansiedade e a ansiedade, por sua vez, dificulta a realização de atividades produtivas.
A relação entre ansiedade, insegurança e dúvida
Refletindo mais a fundo, a ansiedade pode estar ligada à insegurança e à dúvida.
“Quando uma pessoa sente-se insegura, seja sobre si mesma ou sobre o futuro, isso gera um estado de constante alerta, com pensamentos repetitivos sobre possíveis falhas ou erros”, relata o Dr. Lucas.
A dúvida também alimenta a ansiedade, pois o medo do desconhecido e a falta de controle sobre o que está por vir intensificam a sensação de ameaça. Logo, esses fatores frequentemente desencadeiam ou agravam a ansiedade.
O que a ansiedade pode causar se não for tratada?
Segundo o médico, não tratar a ansiedade pode ter consequências sérias na saúde mental e física.
A preocupação constante leva ao desgaste emocional, aumentando o risco de depressão e até a dificuldade de concentração e memória, pois o cérebro fica sobrecarregado com pensamentos ansiosos, o que prejudica o foco.
Exaustão mental também é um problema na hora de dormir. Insônia ou sono agitado são comuns em pessoas ansiosas, e não ter um sono reparador pode trazer outros problemas para a saúde, como pressão alta, diabetes e obesidade.
Além disso, os altos níveis de estresse afetam a imunidade, aumentando a chance de ter uma infecção, de desenvolver doenças cerebrais e cardíacas.
“O possível isolamento social desencadeado pela ansiedade pode levar à evitação de interações sociais, contribuindo para o agravamento do problema.”
A longo prazo, se não tratada, a ansiedade pode reduzir a qualidade de vida e até aumentar o risco de desenvolvimento de outros transtornos mentais.
Há um verdadeiro efeito dominó que pode ser prevenido com a ajuda de familiares, amigos e o apoio de um profissional de saúde mental.
Quais as estratégias para diminuí-la a longo prazo?
O tratamento da ansiedade envolve uma abordagem multifacetada, a começar pela terapia, que ajuda na identificação de padrões de pensamento ansiosos e a substituí-los por pensamentos mais realistas e positivos.
Praticar atividade física regular libera endorfinas, substâncias que promovem o bem-estar e aliviam a ansiedade.
Mudanças no estilo de vida sempre fazem a diferença para saúde do corpo e da mente. As técnicas Mindfulness e meditação são exemplos de boas práticas, mantêm a mente no presente e reduzem a preocupação com o futuro.
“Dormir bem, manter uma alimentação equilibrada e evitar o uso de estimulantes como cafeína e álcool podem ajudar a regular o estado emocional.”
Em alguns casos, medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos podem ser prescritos por um psiquiatra, que avalia o tempo de uso adequado e a dose. Cada pessoa responde de uma maneira diferente e deve ter um tratamento individualizado.
E o que fazer para se sentir melhor imediatamente durante uma crise de ansiedade?
Durante uma crise de ansiedade, algumas técnicas podem ajudar a acalmar rapidamente o corpo e a mente:
1. Respiração profunda: inspire pelo nariz contando até 4, segure a respiração por 4 segundos e expire lentamente pela boca contando até 4. Repetir este exercício várias vezes pode ajudar a desacelerar o ritmo cardíaco e diminuir a sensação de pânico.
2. Atenção plena (mindfulness): foque no presente. Um exercício simples é observar ao redor e nomear mentalmente cinco coisas que você pode ver, ouvir ou sentir.
3. Técnica do "grounding": colocar os pés firmemente no chão e prestar atenção nas sensações físicas, ajudando a “atenuar” e controlar a sensação de despersonalização.
4. Uso de água fria: lavar o rosto ou as mãos com água fria pode ativar o sistema nervoso parassimpático, ajudando a relaxar.
5. Procure ajuda: se a crise for intensa e essas dicas não forem o suficiente, contate seu médico quanto antes ou procure o pronto atendimento.
6. Medicamentos: alguns medicamentos, prescritos por médicos, podem ser utilizados neste momento, siga sempre a prescrição médica.
“A ansiedade é uma reação natural do corpo em algumas situações, mas, quando se torna constante ou intensa, é necessário procurar ajuda profissional.”
Identificar as interferências da ansiedade no próprio comportamento e buscar tratamento pode evitar o agravamento dos sintomas e mudar a sua vida.