Foi um singelo presente fruto da gratidão de um paciente que marcou a vida do cirurgião bucomaxilofacial Carlos Eduardo Xavier dos Santos Ribeiro da Silva nas mais de mais de 5 mil cirurgias realizadas ao longo de 30 anos de carreira. Um bombom Sonho de Valsa fora praticamente o que havia restado do patrimônio de um homem que tivera a face destruída por um tiro durante um assalto.
“Talvez minha vida só faça sentido por causa de caras iguais a ele”, recorda com emoção Xavier, sobre quando recebeu a prenda. Dentista de formação, ele é chefe da especialidade na Prevent Senior e responsável pelas cirurgias de reconstrução facial da operadora.
No campo da especialidade bucomaxilar, as reconstruções de rostos são “apenas” uma das atividades realizadas pelo cirurgião e sua equipe dentro da operadora, mas recebe destaque pela inovação. Há três anos, a empresa fechou uma parceria que permitiu realizar esse tipo de procedimento utilizando próteses customizadas. Ou seja, uma prótese feita sob medida, para atender às necessidades do paciente.
“Esse é um grande diferencial da operadora”, o especialista explica “Com a prótese customizada, conseguimos ter um resultado melhor do ponto de vista do tratamento, além de a recuperação ser mais rápida e o paciente voltar a ter uma vida social normal.”
O cirurgião conta que, no método convencional, em casos de reconstrução facial, é empregada uma placa de titânio de tamanho e formato padronizados que é adaptada à anatomia do paciente durante a cirurgia. Essa adaptação e outras modificações são feitas com alicates fortes, aumentando o tempo do procedimento. A utilização de próteses customizadas, segundo ele, além de reduzir em aproximadamente 50% o tempo da operação, melhora a adaptação da placa ao osso do paciente, garantindo a devolução perfeita da anatomia e do contorno facial.
“Poucos serviços no mundo utilizam esse método por ser caro e restrito”, Silva explica. “No entanto, conseguimos uma parceria com uma empresa brasileira que cobra valores acessíveis.”
A vantagem é que a redução dos preços tornou a tecnologia médica a todos os beneficiários, inclusive àqueles que pagam mensalidades mais baratas. “Hoje, somos um serviço de excelência, semelhante aos centros mais avançados do mundo.”
A customização da prótese, de acordo com o cirurgião, é feita da seguinte forma: ele compartilha a tomografia do paciente com a empresa parceira e, por meio de uma ou mais videochamadas, alinha o desenho da prótese até chegar na versão ideal. Depois, ela é impressa em uma impressora 3D em titânio e utilizada em cirurgia.
A primeira cirurgia
O primeiro caso de reconstrução facial utilizando uma prótese customizada na Prevent Senior foi realizada em um paciente que tinha um grande tumor na mandíbula, do lado esquerdo. “Olhando a tomografia, dava para ver que o osso estava completamente destruído. Há alguns anos, em uma situação como essa, removíamos metade da mandíbula e, muitas vezes, deixávamos sem reconstruir ou realizávamos a reconstrução utilizando o osso da bacia. Ou seja, o paciente ficava com algum grau de deformidade facial, além da dor na região da retirada do enxerto”, explica o doutor.
Para este beneficiário, o cirurgião e sua equipe utilizaram a prótese feita sob medida pela primeira vez, a fim de garantir a reconstrução da face do paciente, que incluiu a articulação da mandíbula com o crânio - articulação temporomandibular (ATM). Depois, usaram laser para melhorar a cicatrização, e o resultado não poderia ser melhor: “dei alta para ele com 24 horas e sua filha mandou um vídeo dele após 48 horas, abrindo e fechando a boca e já se alimentando por via oral”, complementa o doutor. Depois dessa cirurgia, a operadora já realizou cerca de dez procedimentos nestes moldes.
Agradecimento em forma de bombom
Um dos casos mais emocionantes relatados por Silva como parte da sua atuação em reconstruções faciais foi de um beneficiário atingido por um tiro durante um assalto. “A bala entrou no lábio superior e saiu perto da clavícula, explodindo toda a mandíbula do paciente”, recorda.
A gravidade do caso, segundo o cirurgião, se deu principalmente porque o paciente tomava anticoagulante, o que aumentava suas chances de morte naquela situação, mas, por tratar-se de fratura exposta e sangrando, a cirurgia era de emergência.
A única saída foi Silva assumir o risco e optar pela operação para reconstrução da face. “Fizemos o procedimento e ele sangrou bastante. Quando terminou, ainda havia saída de sangue pelo dreno por conta do anticoagulante. Eu fiquei comprimindo a região a noite toda na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para diminuir a perda de sangue e, no dia seguinte, tinha parado de sangrar e deu tudo certo”, relata.
Depois de dois meses da operação, o cirurgião conta que o paciente foi visitá-lo e disse: “doutor, roubaram tudo o que eu tinha. Eu não tenho dinheiro ou crédito, não tenho nada. Mesmo assim, queria te dar um presente em forma de agradecimento”. Depois disso, o homem retirou do bolso um bombom e o deu de presente para Silva. “Todas as vezes que eu penso nele, que lembro dessa história, eu choro. Talvez minha vida só faça sentido por causa de caras iguais a ele. Eu assumi o risco de ele morrer na minha mão, mas eu sabia que tinha capacidade para salvá-lo. Fiz tudo que pude. Se ele não resistisse não seria por omissão e, sim, por ação", conclui o cirurgião.
De pai para filho
A história profissional do doutor Carlos Eduardo teve início com seu pai, que é cirurgião-dentista. As conversas diárias com o dr. Ataliba, que é seu exemplo e fonte de inspiração, o fez gostar e optar por cursar odontologia na faculdade.
Natural da cidade de São Paulo, Silva fez o curso de graduação na Unisa, universidade de Santo Amaro, onde se formou em 1992 e descobriu, como também aprendeu a amar, a especialidade de cirurgia bucomaxilofacial.
Silva conta que ajudava um professor ríspido, durante uma cirurgia da faculdade, quando acabou entregando para ele a pinça errada. O professor, assim como ele relembra, jogou o instrumento longe, deixando o clima pesado. Percebendo que tinha exagerado, o professor tentou recompensá-lo convidando-o para acompanhar um plantão de cirurgia em um hospital municipal. “No primeiro domingo que eu estava lá, recebemos um paciente que tinha sido atingido por tiro no rosto. Quando entrei na cirurgia para ajudá-lo, eu vi que era isso que eu queria fazer para o resto da minha vida”, afirma com emoção.
Depois de formado, o cirurgião fez residência para atuação na área de cirurgia bucomaxilofacial e, ao longo da sua trajetória, fez especialização em Estomatologia e Cirurgia Bucomaxilofacial, mestrado e doutorado no Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, além de atuar no Exército Brasileiro por quase dez anos, chegando a 1º tenente.
“Eu sou coautor de oito livros de cirurgia e estomatologia, especialidade que cuida das doenças da boca, e tenho mais de 50 trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais. Já ministrei aula em diversos lugares do mundo, em várias cidades”, relata Silva.
O cirurgião também lembra de um dos dias mais importantes da sua carreira: “o meu maior desafio foi em 2019, quando fui convidado para dar uma aula, em inglês, para centenas de especialistas no Congresso Mundial de Cirurgia Bucomaxilofacial. Na hora, eu vi sentados na minha frente dois professores, autores de livros que eu tenho. Talvez, esse tenha sido o momento de maior realização profissional da minha vida. Foi fantástico.”
Há quase dez anos atuando na Prevent Senior, Silva chegou à operadora por meio de um convite para ser credenciado e atender no ambulatório de bucomaxilofacial. “Desse ambulatório eu passei a atender urgências nos prontos-socorros, primeiro na zona sul e depois na zona leste. Na sequência, virei responsável pela especialidade e hoje também sou membro do Comitê de Ética e Pesquisa da operadora”, narra o especialista.
Em dezembro, o cirurgião completa 30 anos de formação e ele fala com alegria da sua realização profissional. “Eu nunca, na minha vida, soube o que era trabalhar. Eu nunca trabalhei. Eu sempre acordei para fazer o que eu gosto, ajudando as pessoas. Me considero absolutamente realizado na minha profissão. Eu sou um cara privilegiado pelo que faço, e jamais poderia ter toda a dedicação aos meus pacientes se não tivesse o apoio da minha família. Minha esposa Fernanda e meus filhos Thais, Lucka e Pedro que compreendem e me apoiam em minha MISSÃO”, finaliza.
Equipe de bucomaxilofacial na Prevent
Além das reconstruções faciais, que também beneficiam mulheres vítimas de violência doméstica por meio de uma parceria com o Instituto Um Novo Olhar, a equipe do doutor Silva atua em outras frentes dentro da operadora.
Uma delas é dentro de UTIs para realizar a higiene bucal dos pacientes internados, principalmente nos que estão entubados, diminuindo os riscos de doenças originadas pela presença de bactérias na boca que podem migrar para os pulmões e, consequentemente, causar uma pneumonia aspirativa. A medida, além de contribuir com a queda no número de óbitos, tem reduzido significativamente o tempo de internação.
A equipe também atua no tratamento de mucosites em pacientes oncológicos, no Núcleo de Oncologia Prevent Senior Vila Mariana. “As mucosites são inflamações que surgem na boca desses pacientes em decorrência da radioterapia e quimioterapia, dificultando sua alimentação. Então, usamos o tratamento a laser para evitar que essas mucosites se desenvolvam ou para reduzir os sintomas em quem desenvolve esse tipo de inflamação”, destaca o cirurgião. “Temos muito orgulho desse trabalho, porque antes muitos pacientes suspendiam o tratamento contra o câncer por causa das mucosites e hoje isso ocorre muito raramente”, completa.
Integração em cirurgias cardíacas
Outro viés de atuação da equipe de bucomaxilofacial da Prevent Senior é na prevenção de endocardite bacteriana – infecção de válvulas do coração que, normalmente, se origina por infecções na boca, por meio de bactérias.
De acordo com Silva, muitos pacientes que eram submetidos a uma cirurgia para a troca de válvula do coração acabavam retornando ao hospital depois de um tempo por causa de infecção nessa estrutura cardíaca, sendo necessário operá-los novamente. “Há cerca de cinco anos, implantamos, em conjunto com a equipe de cirurgia cardíaca, um programa que mudou o fluxo de atendimento. Agora, eles [equipe de cirurgia cardíaca] pedem um raio-x panorâmico, encaminham o paciente para a minha equipe avaliar e só operam se informarmos que não há infecção na boca. Com isso, houve queda nas endocardites, reduzindo para quase zero a necessidade de reoperação”, esclarece.
Buco em números
Atualmente, a equipe de bucomaxilofacial da operadora realiza aproximadamente 50 cirurgias eletivas e agendadas por mês, que envolvem retirada de cistos, tumores benignos, extração de dentes de pacientes com deficiências cognitivas, como Alzheimer, lesões bucais, cirurgias da ATM, cirurgias ortognáticas (técnica utilizada para corrigir alterações de crescimento dos maxilares), entre outras.
Além disso, são realizadas cerca de 30 cirurgias de urgência mensalmente, que contemplam traumas de faces, especialmente causadas por quedas da própria altura dentro de casa.